
Conduru escorregadio e embaçado
Estarei aqui versando sobre as análises feitas a partir do texto do autor Roberto Conduru e também trarei a minha experiência pessoal como visitante da 29° Bienal. Com o apoio dos textos de curadores como Agnaldo Farias e Moacir dos Anjos. Dentro dessa análise buscarei os aspectos positivos e negativos da construção do texto do autor fazendo uma reflexão a partir de minha experiência como visitante de Bienais.
Penso que o autor Roberto Conduru coloca de forma clara a pesquisa histórica das Bienais. Quando relata a linha histórica do evento. O autor diz:
[...] Além de possibilitar uma visão critica da arte moderna, a Bienal permitiu o confronto da arte feita no Brasil a partir da década de 10 com a produção contemporânea. O que não significava pouco. Ao integrar o sistema de arte local ao circuito de arte mundial, embora quase apenas como lugar de divulgação, a Bienal seguia o projeto universalizante das vanguardas artísticas europeias do início do século, sua tendência internacionalista, e atendia também ao desejo da cultura moderna brasileira de integração efetiva a ordem mundial. Dai imagem da Bienal como a grande janela da arte no Brasil [...] (CONDURU, 1998, p.68)
Essa ideia vem ao encontro do que penso sobre o papel das Bienais. Penso que a promoção da arte contemporânea feita no Brasil, pelas Bienais, estava construída em uma visão de mundo onde tínhamos uma produção no passado valorizando a arte estrangeira não reconhecendo a produção existente no Brasil. Nossos artistas que aprenderam com os grandes mestres europeus tornaram-se bons alunos e superaram os mestres transformando essas imagens e transpondo para o nosso mundo, para o ser brasileiro. Isso atinge seu auge com as obras de Tarsila do Amaral com o antropofagismo que absorve a arte estrangeira, mas coloca a realidade brasileira com sua vida, seu samba, sua alegria dentro de uma terra que se transforma a partir da miscigenação que traz a alegria das cores e o modo em que transforma suas tristezas em alegria, a malandragem e o gosto pelo risco de viver intensamente e viver fazendo do pouco muito.
A culminância deste reconhecimento vem por meio da criação da Bienal de São Paulo numa época em que a cidade ainda não se constituía no grande caldeirão cultural que se transformou a partir da segunda metade do século 20. Como Roberto comenta:
“[...] ainda que o feito da segunda Bienal não tenha se repetido, as edições seguintes estabeleceram um padrão que, com altos e baixos, se manteve até a 9° edição, em 1967[...]” (CONDURU, 1998, pg.68).
Visto que o MASP e o MAM não davam conta de apresentar um panorama da arte mundial, pois se dedicavam a uma produção mais tradicional. A dimensão da ideia de realizar uma exposição como a de Veneza e da cidade de Kassel, na Alemanha, em São Paulo. Constituiu mudanças radicais na produção dos artistas brasileiros. Assim, pensar na periodicidade da bienal foi extremamente pedagógico. Sendo que, os realizadores tinham a ideia de que dois anos seriam um bom período para se observar mudanças no panorama mundial da arte e pra que a equipe da organização pudesse ter tempo para elaborar um bom projeto, realizar contatos e convites. Além disso, realizar uma exposição desse porte era uma empreitada bastante cara e o período de dois anos seria um período razoável. Pela experiência estética que tive como iniciada na leitura da obra de arte, posso dizer que olhar uma mega exposição a 29ᵃ Bienal, foi fantástica. Não consegui imaginar que um dia estaria dentro daquele espaço tão suntuoso e que me abriria um leque de opções permitindo a interação com as obras de arte. Como bem colocou Moacir dos Anjos, um dos curadores chefes do evento ressalta dois pontos importantes: a relação entre arte e politica e a ampliação do entendimento do que é contemporâneo, para isso incluíram na mostra artistas expostos décadas atrás, como Flávio de Carvalho. Ainda segundo Moacir “Contemporâneo não é o recente, mas aquilo que nos faz entender melhor o mundo independente de quanto foi feito”.
Agora me permito colocar aqui algumas posições do autor nas quais divirjo como quando ele diz:
[...] as edições a 9° edição, em 1967. Nas Bienais estiveram presentes as obras mais consequentes do século XX, embora a Pop Arte, apesar de significativas ausências [...]. (CONDURU, 1998, p.68)
Para alguém que é um formador de opinião para dentro do Sistema das Artes faltaram informações ligadas aos acontecimentos da história real e não da História Oficial como o autor coloca. Como o fato de vivermos naquele período uma ditadura militar. Vejam que algumas obras foram retiradas da mostra por “ferir” a Constituição brasileira, que proibia a utilização de símbolos nacionais. Conforme as regras vigentes esses símbolos só poderiam ser usados para fins oficiais ou “patrióticos”. A representação americana foi tão marcante, que esta Bienal ficou conhecida como a “Bienal Pop”. Todos éramos sabedores que o governo norte americano tinha apoiado o Golpe Militar de 1964. Assim, não surpreendeu a ninguém que a representação americana fosse tão massiva. A delegação foi composta por artistas como: Robert Rauschenberg, Roy Liechtenstein, Claes Oldenburg, Robert Indiana, Tom Wesselmann, Andy Warhol e Jasper Johns.
Vejam como Roberto Conduru fala sobre os apoios institucionais:
“[...] Iniciativa privada que não consegue responder inteiramente pelo evento, a fundação Bienal depende do Estado, de verbas públicas federais, estaduais e municipais, mas também do Itamaraty, vinculo diplomático que sempre reforça o viés nacionalista [...]” (CONDURU, 1998, p.72)
Ele poderia ter se dado conta que a arte não se sujeita aos fatos históricos. Ela encontra seus meios de protestar e sair pela tangente quando a liberdade de expressão no campo da Arte é tolhida. Como em tempos de “tormenta” pode-se navegar, mas temos que encontrar meios de comunicar. A arte usa de metáforas para questionar os vários tipos de governo e regime e também a “politicagem” que é algo instituído no Brasil desde que os portugueses aqui chegaram.
Como forma de alavancar as artes foi criada depois a Lei Rouanet de incentivo a cultura e doações privadas. Moralizando o gerenciamento do orçamento da cultura que no período Militar foi descaradamente desviado.
A criação e organização de uma mostra desse porte são complexas. Assim, temos a necessidade de buscar muitos apoios e nesse caminho os orçamentos podem ter um direcionamento produtivo ou não. No caso da Bienal de São Paulo, desde a 14° edição da exposição, em 1977, as obras passaram a ser reunidas em núcleos temáticos. A partir de 1990, a estrutura da exposição começou a girar em torno de um tema proposto pela curadoria.
Os formatos das Bienais foram se modificando a cada edição, assim como o público visitante, os arte educadores e principalmente o artista que expõe naquele espaço e que sabe que o visitante mudou a sua visão da mesma, pelo fato de já ter se configurado uma mudança no sistema das Bienais e das artes. Principalmente, em relação ao espaço, o tempo e o formato dessa mega exposição. Agnaldo Farias, curador da 29ᵃ Bienal, salientou a preocupação em não fazer uma exposição convencional, “meramente contemplativa”, mas criar espaços que privilegiem o encontro, recuperando a tradição do debate e da celebração politica da Bienal de São Paulo, além de ter um grande projeto educativo.
Presenciei uma grande organização, artistas da nova e da velha geração. Não percebi uma divisão histórica e o traço comum a todos os participantes me pareceu a transgressão, a busca pelo novo e a experimentação.
Mesmo que já se tenham passado 13 anos em relação às edições passadas e nas quais o autor faz sua análise. A minha experiência na visitação da Bienal deixou claro que mesmo que as Bienais 22ᵃ e 23ᵃ não tenham ficado a contento na opinião do autor, vi pessoalmente que os fracassos anteriores contribuíram para que os Curadores trouxessem novas perspectivas e melhorassem o nível da Bienal para que hoje seja considerada uma megaexposição.
“[...] Montar uma exposição e preparar uma aula são coisas que têm muito a ver uma com a outra. Tudo exige muita atenção aos detalhes. Nesse ofício não existe uma fórmula no que se refere ao público. Acredito que temos obrigação de honrar os artistas através da inteligência. Por isso, exijo sempre do público, razão pela qual sou contra textos chavões, cheios de clichês. Acho que quando usamos chavões, não estamos pensando. Nossa obrigação é, portanto, selecionar. Existem critérios, excelência, labor intelectual. Aliás, não acredito nessa história de que gosto não se discute, porque se discute, sim. Inclusive, a estética nasce disso. O gosto é completamente construído, ele é cultural. [...]” (FARIAS, 2010, _)
“Há sempre um corpo de mar par o homem navegar.” Com esta frase já se pode perceber tudo o que foi pensado, que caminharíamos por uma arte que questionaria, mostraria que temos condições de reinventar nossa realidade e olhar novamente para uma arte que ainda consegue se reinventar e encher nossos olhos e lavar nossa alma, nos levando a percorrer e pensar como aa arte tem essa força de movimentar pessoas e encantá-las. Foi como me senti, tonta com tantas coisas novas e maravilhada com este mundo tão antigo e tão novo em seus movimentos de busca da vida, como o mar, tão lindo e tão imprevisível.
Referências Bibliográficas:
http://www.bienal.org.br/FBSP/pt/29Bienal/29Bienal/Paginas/Curadoria.aspxhttp://www.29bienal.org.br/FBSP/pt/Educativo/Documents/espaco_do_professor_encontro3_curadoria.pdf